Você sabe escolher o sistema de purificação de água residencial ideal?
Atualizado: 21 de fev. de 2021
O Brasil é o quinto maior consumidor de água mineral engarrafada no mundo, com um consumo médio per capita de 107 litros/ano. Ao mesmo tempo, somos o país com maior disponibilidade de água superficial do mundo. A água potável que chega a 84% da população vem na sua maioria de rios e reservatórios.
Apesar das estações de tratamento de água lutarem constantemente para atender os padrões de potabilidade, com uma água bruta cada vez mais degradada, esta tarefa está cada vez mais difícil. Isto faz com que o consumo de água mineral engarrafada só aumente no Brasil. No entanto, muitos consumidores já concluíram que os gastos com água mineral podem ser altos, e os filtros domésticos surgem como uma alternativa. Como a oferta é ampla e os preços e tecnologias variam bastante, muitas dúvidas podem surgir na escolha do melhor sistema.
Conhecendo o problema
A primeira abordagem deve ser conhecer o problema que afeta a sua água da torneira. Geralmente estes sintomas são organolépticos, ou seja, afetam o visual, sabor ou odor da água. Também podem ser efeitos indiretos, como dificuldade para lavar roupa, banhar-se ou danos em equipamentos que utilizam esta água.
Existem ainda os problemas que não se detectam de forma simples e são observados apenas com análises físico-químicas: os contaminantes emergentes.
Problemas Organolépticos:
Cor marrom ou particulados: A água que sai da estação é constantemente monitorada, e este problema na grande maioria das vezes se dá na distribuição da água. Tubulações antigas de aço carbono na cidade ou no próprio prédio/bairro geralmente são os causadores.
Cheiro de barro: problema típico em períodos de seca. São dois componentes que causam: MIB e Geosmina. São subprodutos das explosões (da proliferação excessiva) de algas no reservatório ou do rio da captação e de difícil remoção nas estações de tratamento.
Cheiro de "cloro". É um cheiro marcante que se aproxima ao sentido nos produtos de limpeza doméstica ou em piscinas. Na realidade, não é exatamente "cloro" o que se sente, mas outros compostos: as cloraminas, que são um subproduto da reação do cloro livre com compostos nitrogenados (amônia) que podem estar dissolvidos na água de forma natural ou não.
Efeitos indiretos
Dificuldade de limpeza e incrustração: Causado pela dureza (carbonatos de cálcio e magnésio) elevada na água, apesar de estar sem cheiro nem gosto característico. Não é comum na maioria das águas de abastecimento público oriundo de rios e reservatórios brasileiros. Problema mais típico de água de poço.
Contaminantes emergentes
Nem todos os contaminantes da água são percebidos por meios sensoriais ou de forma indireta. À medida que a tecnologia de detecção analítica ficou mais precisa e barata, se viu que a água potável possui pequenas concentrações de produtos que acabam do esgoto não tratado para os rios e voltam para a rede de abastecimento de água potável. Ainda não são claros os efeitos que o consumo à longo prazo destes componentes causam na saúde humana. Abaixo seguem 3 categorias de contaminantes emergentes que dependendo do estuário que abastece a sua região, podem estar mais ou menos presentes.
Microplásticos. São frutos da decomposição dos polímeros que são descartados e não decompostos na natureza. Se encontra microplástico em praticamente todo meio ambiente: na neve do ártico, no fundo do oceano, na água mineral engarrafada, na água da torneira, etc. Estudos preliminares mostram que sua ingestão nas concentrações nos níveis atuais não apresentam riscos à saúde, porém seus efeitos ainda estão sob investigação.
Fármacos. São hormônios, medicamentos, inclusive drogas ilícitas. Ainda há poucos estudos sobre os efeitos destes compostos em concentrações baixas com o consumo a longo prazo. Especial atenção é dada aos disruptores endócrinos. São componentes que, quando ingeridos, mesmo em baixas concentrações podem alterar níveis hormonais do ser humano.
Agrotóxicos. A água da chuva carrega muitos agrotóxicos até os rios, que então são utilizados como fonte de água para a população. A segurança que temos a este respeito é que periodicamente as empresas de saneamento devem apresentar laudo com as concentrações de 27 diferentes tipos de agrotóxicos utlizados no Brasil na água potável.
Conhecendo as soluções
Os filtros costumam ficar na cozinha, próximo à utilização. A princípio, parecem todos iguais, mas vamos ver que há bastante diferenças nas tecnologias utilizadas.
Filtro de carvão granular ativado. É o mais comum e geralmente é o mais barato. O carvão vegetal possui excelentes propriedades de adsorção de componentes orgânicos. Neste caso o filtro é um tubo que força a passagem de água pelos grãos de carvão ativado, que retém a matéria orgânica. Podem ou não requerer retrolavagem. A eficiência de filtragem é muito dependente da vazão de água aplicada e do tipo de carvão utilizado.
Refil de filtro de carvão ativado para uso geral
Ultrafiltração. As membranas de ultrafiltração residenciais são filamentos ocos em que a água passa de fora para dentro da fibra, através de poros muito pequenos e os sólidos, algas, bactérias e vírus ficam retidos nestes poros. Produzem uma água praticamente isenta de sólidos, deixando passar os sais minerais. Vão reduzindo a produção de água à medida que o tempo vai passando e dependendo da quantidade de sólidos retidos. Geralmente precisam ser lavadas ou retrolavadas periodicamente.
Membrana de ultrafiltraçao da japonesa Toray
Vela cerâmica. A vela cerâmica é um componente poroso que filtra a água através da força da gravidade. Possui o mesmo princípio da membrana de ultrafiltração, que filtra partículas e microorganismos. A vela costuma incorporar outros elementos como o carvão ativado e a prata.
Vela de reposição dos filtros gravitacionais Stefani, e um filtro de cerâmica São João
Filtro cartucho. São unidades que se costumam ver em máquinas de café ou bebedores. Os cartuchos são fibras plásticas sobrepostas, que podem remover partículas e alguns microorganismos. Não são tão eficientes como a ultrafiltração, apresentando poros entre 10 a 100x maiores que os poros de uma ultrafiltração.
Abrandadores: As resinas são esferas plásticas especialmente desenvolvidas para ter afinidade com íons. Um abrandador é um filtro que leva resinas com afinidade com íons positivos bi e trivalentes. No caso, Cálcio (Ca++) e Magnésio (Mg++) que são elementos que compõem a dureza da água. Também podem reter a passagem de Ferro (Fe++) e Alumínio (+++), porém com estes metais o processo é praticamente irreversível.
Nanofiltração: É uma membrana feita de material polímérico. Rejeita todos os sólidos, bactérias, vírus incluindo a dureza da água (Ca+Mg). Necessita de uma bomba para aumentar a pressão de alimentação. Possui um princípio de operação parecido com o próximo produto.
Osmose inversa: É uma membrana feita igualmente de polímero, porém com poros tão pequenos que apenas deixa passar moléculas do tamanho da água. Rejeita todos os sólidos, bactérias, vírus incluindo todos os sais minerais da água. Necessita de uma bomba para aumentar a pressão de alimentação e de água com excelente qualidade na entrada para evitar um ciclo de produção muito curto. Como a água é quase totalmente isenta de minerais (e eletrólitos), não é recomendada para consumo como água potável. Após passar pela osmose, ela precisa de um outro processo de remineralização para poder ser consumida.
Sistema completo de osmose inversa doméstica da Watts
Acessórios
- Recobrimento de prata. Alguns filtros possuem partículas de prata que recobrem parte da estrutura filtrante (ou a vela, ou o carvão). Como ela possui efeito biocida, se aproveita para potencializar a remoção de microorganismos com o filtro.
- Luz ultravioleta. A luz ultravioleta de 254 nm possui excelentes características de esterilização. Costuma estar instalada em conjunto com outra tecnologia, pois não consegue remover partículas, apenas reduz a carga microbiológica da água.
- Gerador de ozônio. O O3 é um dos oxidantes mais potentes, e consegue romper componentes que o cloro não reage. Possui uma excelente ação de esterilização. Ele é gerado no local, com a aplicação de alta voltagem criando um pequeno arco elétrico e após misturado na água. Possui uma duração muito curta na água, de apenas alguns minutos.
Conclusões
Não existe uma solução que cubra 100% dos problemas. O mais seguro é combinar 2 tecnologias para obter um excelente resultado na maioria dos problemas que afetam as águas potáveis brasileiras. Abaixo apresentamos uma tabela informativa com um resumo do que tratamos até aqui.
Alguns exemplos de combinações geralmente escolhidas:
Vela cerâmica + carvão ativado: perceba que juntando-se as duas linhas da tabela acima, quase a totalidade dos problemas são tratados.
Ultrafiltração + Nanofiltração/Osmose Inversa: Para quem precisa de vazões mais altas de água em excelente qualidade, esta solução geralmente é a mais adequada.
Apresentamos abaixo uma tabela com as vantagens e desvantagens de cada tecnologia:
Esperamos que estas informações ajudem na escolha do purificador de água residencial ideal para você. Algumas considerações finais importantes:
Não recebemos nenhum apoio ou patrocínio dos modelos de filtros residenciais. O que escrevemos aqui é fruto da experiência no trabalho com tratamento de água.
Os resultados que estas tecnologias oferecem dependerá bastante da qualidade que o fornecedor entrega nos seus produtos.
Após concluir quais as melhores tecnologias para o seu caso, escolha também um fornecedor com um bom prospecto, sempre que caiba no seu oçamento.
Resumindo: veja ao menos 3 fornecedores e fuja dos que sejam muito mais barato ou caros.
Deixe o seu comentário, crítica ou sugestões de outras tecnologias não abordadas neste artigo.
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